Timor-Leste

"Timor-Leste olha para frente..."

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Entenda a Missão Brasileira no Timor-Leste

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                        Timor-Leste foi colônia de Portugal de 1515 a 1975, sendo invadido pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial. No período japonês, as pessoas foram escravizadas, as mulheres violentadas e muitos barbaramente assassinados.
            Em 1975, quando Timor-Leste proclamou a independência de Portugal, a  Indonésia invadiu esta ilha e declarou-a anexada a seu país. O guerreiro povo timorense não aceitou a situação e lutou pelo seu país. Diante da desproporcional força dos invasores, os guerrilheiros timorenses fugiram para as montanhas e iniciou-se uma luta que durou 24 anos. Estima-se que neste período um terço da população do país foi dizimada, além das torturas, prisões e violações de mulheres.
            Em 1999 a ONU decidiu intervir e realizar um referendo para que o povo decidisse se queria a integração com a Indonésia ou a independência.  O resultado da pesquisa não poderia ser outro: o povo desceu das montanhas e votou, em sua grande maioria, pela independência. Após a divulgação do resultado ocorreu a barbárie: ao se retirarem do país, o exército indonésio e as milícias timorenses, apoiada por estes militares, incendeiam casas, órgãos públicos, escolas e tudo o que podiam destruir, incluindo vidas humanas inocentes.    
            A infra-estrutura do país foi aniquilada. Profissionais de várias áreas partiram para Indonésia e a nação ficou desfalcada dos serviços públicos essenciais, dentre eles o da educação. Diante disso, a UNTAET (United Nations Transitional Administration of East Timor), órgão da ONU responsável pelo governo de transição, dirigida pelo brasileiro Sérgio Vieira de Melo, decidiu fazer um recrutamento urgente de pessoas, com algum preparo, para suprir a falta de professores. Estes não eram professores formados, mas  o que existia para reabilitar a educação do país.
            Durante a ocupação, as aulas eram ministradas no idioma indonésio e os timorenses foram proibidos de falar em sua língua natural e, principalmente, no idioma português. Aqueles que infringissem estas normas eram punidos, incluindo a possibilidade da pena capital. Assim, o idioma português passou a representar a língua da resistência aos colonizadores, tornado-se, após a independência, a segunda língua oficial do país.
            Segundo a constituição, a partir de 2011/2012 as aulas deverão ser ministradas no idioma português. A questão da língua  e a necessidade de formar professores é o ponto essencial para a compreensão da presença brasileira na Educação do Timor-Leste. Como já relatado, a infra estrutura do país foi destruída: não existem livros para os professores e alunos, os recursos pedagógicos são escassos, os profissionais licenciados são poucos, o fornecimento de energia é irregular, etc. Faz-se necessário formar aqueles que atuam como professores, mas  no idioma português. É um duplo desafio: preparar bem os educadores e reabilitar a língua portuguesa, tendo em vista que durante 24 anos ela foi proibida  e a língua nativa (tetum) é insuficiente como língua científica.
            Faltam recursos materiais e humanos com formação formal, falta muita coisa neste pequeno país, mas uma coisa não falta: a vontade de seu povo. Dizem que a riqueza desta pequena ilha no oriente está nas profundezas, no petróleo; de fato está nas profundezas, mas nas profundezas do coração das pessoas. Este é o povo mau-bere, povo guerreiro, não passivo, resistente e resiliente, que não aceita a dominação, porém um povo pacífico. Deparamos-nos dia a dia com o aparente paradoxo da característica não passiva, mas pacífica. Eles nos ensinam que a paz não é um estado lânguido, abatido e silencioso, mas um estado ativo no qual o homem luta constantemente pela justiça.
            Outra característica que não pode deixar de ser relatada é a enorme capacidade de perdoar. Pessoas diferentes em diferentes situações, quando são questionadas as respeito das atrocidades cometidas pelas milícias e pelos indonésios contra eles e seus familiares, dão a mesma resposta, como num só coro: “Timor agora olha para frente, não para trás. Isto já passou, não temos mais inimigo!”
            Eis a mensagem para o mundo deste povo sorridente, olhar para frente, perdoar e não ter mais inimigo. Ao passar por ruas escuras, caminhos tortuosos é possível ver grupos de jovens conversando e logo os ocidentais, acostumados com a violência e assaltos, ficam temerosos, mas ao se aproximarem das pessoas percebem o quanto são gentis, dóceis e hospitaleiros.
            Profissionais da educação dos países de língua portuguesa têm muito a contribuir com o desenvolvimento  da cultura acadêmica para a reconstrução de Timor-Leste. Por outro lado, tem muito a aprender com estas pessoas de estatura baixa, mas de um coração enorme.   
Marcelo M B Moreno

2 comentários:

  1. Sei que devem chover perguntas aqui nesse sentido, mas tenho bastante interesse em trabalhar no projeto. Como estão abertas as inscrições e achei o seu blog como referência, gostaria de saber o que, especificamente, é pedido no campo "Plano de Trabalho". O edital traz informações bem vagas a respeito. No meu caso, trabalharia como docente de Língua Portuguesa mesmo. Como é o trabalho?

    Difícil, imagino, porém certamente gratificante.

    Meu e-mail é cruz.andre.f@hotmail.com

    Abraços,

    André Cruz

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